sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Vocês já leram a Jake hoje?




Estrella ou Estrela, a blogueira do "Engasgados - Meu minuto de revoltas" escreve bem pra caramba. Claro que tudo, na vida ou na leitura, é questão de gosto pessoal: eu adoro a simplicidade e a ingenuidade do Sr. Charles Bukowski, mas a maioria só enxerga obscenidades no que ele escreve. Questão de percepção de cada um. Tenho um aluno que me chama de Chinaski, mas não pelo que escrevo e sim pela quantidade de mulheres que ele imagina que eu tive! Só pra explicar: Bukowski era tão "loser" que vendeu os direitos de usar seu próprio nome em seus textos autobiográficos e teve de adotar o nome “Henry Chinaski” dentro dos livros... Não ser dono do próprio nome... Não é o máximo?

A percepção é algo pessoal, óbvio. Por exemplo: nem todo professor sabe, mas eu sei quando um aluno está trapaceando numa prova. Como minhas provas são à prova de "cola" ("prova à prova" é uma construção estranha, eu sei), a fraude sempre se confirma na correção, o aluno desonesto tira zero porque eu faço uma dúzia de provas diferentes e eles não sabem disso. Faço por pura diversão, nunca algum aluno meu tira menos do que a nota que precisa para ser aprovado. O que resta para mim, como professor? É ser cruel com os que não querem fazer a prova e optam por copiá-la de algum colega. "Todo professor é antes de tudo um sádico" é o milenar ditado chinês de minha autoria que mais repito.

Mas, voltando à percepção: Jake é mimada, uma mulher linda e adulta com cérebro de garotinha adolescente, se comportando como se o mundo devesse dar regalias a ela. Vive entre a depressão, a euforia e a baixa auto-estima, não acredita nem em elogios e nem em terapias. Então, assim como Bukowski era um perdedor (logo ele, o maior escritor de todas as Américas, para mim) legítimo, daqueles que bebem e ficam por aí, sem reconhecimento (até ficar velho e ser descoberto), Jake se comporta como se fosse também uma perdedora. Van Gogh não entra na comparação porque era maluco e gostava de cortar uma orelhinha de vez em quando e não era escritor. Mas, o principal, Van Gogh morreu (mas não por causa da orelha, caso não saibam) sem reconhecimento, coisa que não aconteceu com o velho Buk e que, provavelmente não deverá acontecer com a jovem Jak. Nenhum deles era ou são perdedores, mas ela se vê desse jeito, fazer o quê? Jake não é tão bêbada nem tão "loser" como gosta de fazer parecer e também não é tão sem reconhecimento, tem gente que acompanha o que ela escreve, mas é claro que ela não enxerga isso. Azar dela, sei lá. Se ela curte uma infelicidade, quem sou eu para interferir? Isso tem cura, é só ir se tratar se quiser. Mas se ela é feliz sendo infeliz, eu é que não tenho poder para mostrar a ela... De qualquer forma, o que importa, é que não pare de escrever!

Ok, deixa eu ver se eu me concentro e termino o que comecei: minha percepção faz com que eu veja nela a mulher perfeita - tem beleza e tem talento, ou seja, corpo e mente 100% desejáveis. Talvez apenas eu tenha a capacidade de detectar essa perfeição, não sei, mas sei que ela é incapaz de auto-reconhecimento e rejeita a visão que os outros têm sobre ela: ela não aceita elogios... Ela tem uma qualidade inacreditável, que eu invejo (e que tinha também o Bukowski) que é “a capacidade de escrever fácil”. Para quem lê, parece que eles pegaram um pedaço de papel e fizeram uma lista de compras, parece que não deu trabalho nenhum contar o que contaram. Claro que é uma percepção estranha, o leitor tem de achar que o texto é fácil de ler e não que foi fácil de escrever, mas é essa a impressão que passa. Eles podem ter levado, quem sabe, meses ou anos para escrever uma única linha, mas cada vez que leio eu visualizo eles escrevendo aquilo tudo de uma “maneira fácil”. Por isso os amo. Quantos textos já li em jornais, que deveriam ser apenas reportagens sobre fatos e que pareciam uma briga de um jornalista contra seu teclado? Muitos... Meninos, aprendam a escrever como ela! Se eu pudesse aprender, eu pagaria por isso.

Bom, eu não ia dizer nada disso, eu ia é falar do conteúdo do texto dela, o último (BORA BEBER, RAPÁ!!!), que é, como freqüentemente eram os textos de Henry Chinaski, referente à bebida (alcoólica, naturalmente). Quando ela for famosa e eu estiver assistindo ela dando entrevistas na televisão, vou comentar com as pessoas que conheço: “já conheci essa daí, fui até a cidade dela para beber com ela! Naquela ocasião bebi tanto que urinei nas calças ao tentar ir ao mictório, de tão podre que eu fiquei! Eu nunca tinha bebido tanto numa mesma noite! Quando voltei para o hotel, tive de descer do meu quarto duas vezes e pedir ajuda ao recepcionista para conseguir entrar no meu quarto, eu não conseguia abrir a porta, eu estava tão bebum que pensei em dormir no corredor do hotel, na frente da porta...”

Então, quando um texto dela disser que o álcool aproxima as pessoas, podem acreditar. Nem vem ao caso se é verdade ou não – apenas acreditem no que ela diz!



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Meus textos para teatro e stand-up estão em:
www.euquefiz.com

2 comentários:

EnGaSgAdOs disse...

Caramba...
hehehehehe
eu...gosstei, foi um elogio que gostei de ler, ouvir, sei lá
obrigada pelos merecimentos e lembranças
jake estrella
a própria

garotasexy.com.br disse...

faltou dizer q vc é "kerida": comportadinha e gentil...