domingo, 10 de julho de 2016

Eu odeio Cálculo


Desde quando fazia Engenharia, no final dos anos 70, eu odiava aquelas “decorebas” de métodos para "resolver" o "Cálculo Diferencial" e "Cálculo Integral". O cálculo diferencial é simples, é só um monte de métodozinhos irritantemente chatos para achar a derivada. O que é isso na prática? pegue uma curva, encoste uma régua (ou qualquer coisa reta) nessa curva e meça um ângulo da reta com o chão. Isso é uma “derivada”. O Cálculo Integral era mais bobo ainda, mas, infelizmente, com muitas “formulazinhas” a serem decoradas. Basicamente, imagine que você tem um móvel - um sofá por exemplo - e quer saber o volume do sofá. Se você colocar o sofá no triturador, facilmente poderá saber quantos litros de sofá você tem (tinha). Muito útil, claro. Na verdade, a integral que estudávamos na UFRGS trabalhava no plano bidimensional, mas acho que deu pra entender a ideia. A palavra "cálculo" vem de "calculus", que em latim significava "pedrinha", porque, provavelmente, é algo que incomoda demais os estudantes. E vive no sapato de cada um deles. Tanto me incomodaram os cálculos que saí para me graduar na PUC em Computação - palavra que "deriva" de "computare", que quer dizer "contar" em latim. Etimologicamente, uma escolha bem melhor para a minha vida, sem dúvida.

Nos últimos anos eu tenho tido alguns incidentes morais envolvendo bebida alcoólica e salgadinhos gordurosos (ou carne gorda, dependendo da minha moral degenerada) e vômitos verde-amarelos carregados de bílis e há um ano cheguei a ir para a emergência com dores abdominais (quase insuportáveis). O vizinho de baixo, experiente, cantou a pedra: "é pedra". Ou a tentativa ridícula de meu organismo em expeli-la. Mas no hospital medicaram-me e enxotaram-me com o singelo e humilhante diagnóstico de "gases". Proibiram-me a água (com gás, mas nunca bebi isso, de qualquer forma, com ou sem) e os espumantes, e tive de cortar minha rotina de jantares regados a Moët & Chandon e Veuve Clicquot, o que, se não interferiu em nada em aliviar os sintomas, aliviou, ao menos, minha vida financeira.

Esta semana, voltando da vida saudável em Paris e Amsterdam que  eu levei por breves dias ao lado de uma de minhas namoradas, me aventurei, aqui, numa picanha, com outras namoradas, e passei 10 dias sem poder dormir até que minha secretária (e amante) marcasse uma consulta no médico para explicar as dores. Doutor Fernando marcou uma dúzia de exames e me receitou "Buscopan". Ali fiquei numa dúvida atroz: qual desses diagnósticos era pior? O anterior que afirmava que minhas dores horríveis não passavam de gases ou este, que sugere que estou na TPM?

De qualquer forma, ainda não realizei todos os meus exames e um deles já revelou  malditos cálculos biliares, popularmente conhecido como "pedras na vesícula". Passaram-se dezenas de anos, envelheci, fiquei mais experiente e sábio, mas e eu ainda termino sofrendo com os terríveis problemas de cálculo...


(meus textos para teatro e stand-up estão em: www.euquefiz.com - victor@euquefiz.com)


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